terça-feira, outubro 19, 2010

O Zé Manel

Tenho andado angustiada. Aos poucos relembro a pouca família que me resta. Família essa que eu deixei de procurar após a morte do meu irmão. Mas, últimamente eu tenho pensado nela. E escrevi uma carta. Ainda não a pus no correio. Tenho receio da reacção. De quem? Da cunhada, de dois sobrinhos, de dois primos e de sua mãe. A carta continua dentro da mala. A desculpa para me aproximar foi - fotografias. Em casa da minha cunhada há fotografias minhas de quando eu era pequena. E arrasto, e arrasto, e não passo daqui. A minha filha mais nova, decidida como só ela, meteu pés a caminho e foi bater à porta da tia. A tia abriu e abriu os braços e o coração. E falou, falou e mostrou-lhe os álbuns.A minha filha trouxe-mos. E juntinho aos álbuns a notícia da morte do meu sobrinho mais velho. O Zé morreu. Tinha 47 anos. Não sei como estará por lá. Mas, talvez esteja melhor. Há já alguns anos que não o via. O meu coração está apertado, triste e mais angustiado. Mano , serás que reencontrate agora o teu filho?. Um abraço, meu irmão.

terça-feira, outubro 12, 2010

C C B

Marcar encontro no CCB é reviver momentos de outrora. Sentada na mesa do canto de um dos átrios, passou pelos meus olhos aquele dia doloroso em que fui internada no hospital da Cuf. Tinha eu 9 anos. E lá fomos os dois - eu e o marcelino, o meu boneco de papelão mas, que tinha um fato azul de malha e que eu podia vestir e despir. Tive medo nessa primeira noite. Devia ter chorado porque me lembro da enfermeira Isabel ter vindo ler o jornal para o pé de mim. Depois da operação recebi visitas dos outros doentes. Vinham visitar o marcelimo - diziam eles. Hoje havia sol, o rio estava calmo e a companhia soberba. Que bom ter amigos que se desponibilizam a vir ouvir-nos, olhar-nos sem pedirem nada em troca. Louvada seja a Amizade e que os deuses protejam os amigos assim!
Bons sonhos!

sexta-feira, outubro 08, 2010

D. Irene

Pequena, não mais de 1,50m. Quando sai à rua vai sempre impecávelmente vestida. Calças brancas, casaco vermelho e boina ( varia de cor). É traída pelas pernas. Passos pequeninos a arrastarem-se pelo passeio. Quando desce dele para a rua olha atentamente para a altura do lancil e, a custo, desce.
A D. Irene tem uma cadelinha que passeia a dona de vez em quando (sempre q tem a sorte de vir à rua). Há 3 anos que é minha vizinha. Impressionou-me o facto de a ver sempre sozinha. E meti conversa com ela, no café, quando vinha comprar pão.
E apercebi-me da tragédia - sim, tragédia - de viver só. É viúva, sem filhos. Acreditei. Também me disse que o irmão Zé vivia na vivenda do outro lado da rua em "mancebia com aquela que morava nessa casa"(sic). Aí eu percebi que algo estava eerado com a D. Irene. Eu conheço a dita vizinha. Também me falou dos fantasmas que vêm directamente do cemitério e instalam-se na sua casa. Já chamou o sr. comandante da GNR (sic) para prender o homem que vai lá para casa. E isto foi verdade. O homem era o jornalista da televisão do canal que ela estava a ver.
E eu medito: que tristeza! Como é possível viver-se assim!
Eu não quero tal sorte para mim!
Hoje fui comprar pão. está muito vento. Lá estava a D. Irene, à varanda, gritando para a vizinha da frente ( a tal da vivenda):
- Sua malvada, roubaste-me os lençois!!. Dá-me o cobertor. Vou chamar a guarda.
Que os deuses nos guardem de tal sorte!!

Bons sonhos!















terça-feira, outubro 05, 2010

Pele

Pele branca, rugosa,
áspera, descaída.
Pele cansada de respirar,
cansada de suportar
o calor, o frio,
a chuva, a neve,
o barulho, o colo dos filhos.
o encosto dos pais.
Mas os teus olhos luziram
na escuridão dos meus dias.
As tuas mãos suaves
mimaram todo o meu corpo.
Os teus beijos adoçaram
a aspereza do meu sentir.
O teu abraço
aconchegou o meu coração.
As tuas mãos deram vida,
deram luz à minha pele.
E a minha áspera pele
tornou-se veludo.
Tornou-se pele de menina.

Bons sonhos!