Dia da Criança

Ainda me lembro dela. E já lá vão mais de 50 anos. Franzina, morenita, alta para a idade e uma boneca bem agarrada a si - não fosse a dita escapar-se daquele esmagamento. Na sua mão a mão do irmão. O seu único irmão. Mais velhinho, talvez uns oito anos mais velho. Ele não a largava ; era a sua boneca; a menina dos seus olhos. Sempre os dois. A mãe não se importava e a avó é que labutava por aqueles dois meninos. E os dois pequenitos saíam, muitas vezes, para fora do seu território. À descoberta! e quantas coisas descobriam!! Outras casas. outros rostos, o carro electrico que passava tão depressa!, as pastelarias com o seu cheiro a bolo quente acabadinho de fazer, as lojas das roupas bonitas que as senhoras usavam na rua. UM Mundo!!! Mas, havia um lugar preferido dos dois irmãos - O cemitério. E porquê o cemitério? Perguntava eu quando os via passar de mão dada, boneca bem apertada no braço, mão protectora de irmão mais velho. Seria por causa das fotografias que se viam nos jazigos? seria por causa das flores que tentavam alegrar aquele espaço triste? Seria pela sumptuosidade dos jazigos que, mesmo sem perceberem nada de arte, já os impressionva? Talvez tudo junto. Mas, era uma tarde de calor humano, de amor sem limites, de ternura de carinho. 50 e tal anos depois recordo com muita saudade esses momentos. Duas crianças e uma boneca de mãos dadas pela rua fora. Será que hije, dia mundial da criança,haverá irmãos que se amem tanto e ternura a transbordar pelo passeio de qualquer rua deste mundo? Um beijo a todas as CRIANÇAS, sobretudo às mais desprotegidas: Bons Sonhos!