terça-feira, outubro 30, 2012

                                   Cinema  Paris

Sábado à tarde o meu pai disse:
- Amanhã almoçamos cedo e vamos ao cinema,  à matiné das 3h.
- A que cinema, Pai?
- Ao cinema Paris. Apanhamos o 42 e descemos na Estrela.
Para mim - menina de 12 anos - a tarde de cinema começou naquele momento.
Qual seria o filme? Era bom que tivesse actores giros.Ah! não se pode dizer "giros". É uma palavra feia. Actores bonitos  que dessem um beijo à actriz. Ah! eu gosto tanto de ver...
No jornal vêm os filmes que passam nos cinemas. Mas, nós só o compramos ao domingo. Amanhã vou estar atenta e, quando vier o jornaleiro, pego logo no jornal.  Se for  o Pai a recebê-lo já sei que só o posso ler à tarde.
Nessa noite dormi um pouco agitada. Não era preciso pensar em quem se sentaria a meu lado pois, ficaria numa cadeira entre os meus pais. O jornaleiro bateu nos vidros da janela. O meu pai recebeu o jornal. Pronto... lá se foi a possibilidade de ver o nome do filme.
Almoçámos ao meio-dia. Arrumámos a cozinha. Apanhámos o 42 e descemos na Estrela. Comprámos os bilhetes. Nas vitrines exteriores lá estavam os cartazes: As gémeas.
Vi o filme com toda a atenção. Duas irmãs gémeas separadas à nascença que se reencontraram anos mais tarde num colégio.
Voltámos para casa no 42 e... passou-se mais um domingo.
52 anos depois, sentada numa mesa de café, frente ao edifício onde existia o cinema Paris, recordo com saudade a minha meninice, o meu Pai, o movimento daquela rua...
Ainda há eslectricos.   O 28 está a passar...