domingo, dezembro 02, 2012

Aqueles olhos negros

Ela tinha uns lindos olhos negros e tristes. Absorviam o mundo que a rodeava e não gostava.
Fugia de quem falava muito consigo. Tinha medo.
Em casa, a comida era escassa. De manhã, o cheiro do café - feito numa cafeteira de esmalte - lambia a cozinha pobre. Tomava as sopas de café e... eram uma delícia!
As outras refeições eram parcas. De vez em quando, havia peise. Que bom!
Brincava na rua. Via as outras crianças irem para a escola e desejava ir também.. mas, era pequena. De tempos a tempos apareciam umas freiras para ensinarem canções religiosas.  E, lá estava ela, pequenina, sentada no muro, no meio das mais crescidas.
Um dia, sem saber como nem porquê. um senhor veio buscá-la.
Deixou o bairro pobre, a casinha, as sopas de café, a rua para brincar, as freiras para cantar...
O seu mundo rodou vários graus. Tinha, agora, um quarto só para si, - mas o medo tolhia-a.
Foi ensinada a comer, a falar, a sentar-se à mesa... Vestiram-na com fatos bonitos, com chapéus, com sapatos novos e... mandaram-na para a escola.
Ah! a escola! Aí sim! estava feliz! Tinha mais meninas, brincava, aprendia... e, à tarde, voltava sozinha para casa e sozinha ficava.  Valiam-lhe os bonecos e alguns livros de histórias.
Foi crescendo... foi vivendo...
Nunca mais voltou ao bairro pobre. Nunca mais comeu sopas de café pela manhã. E dos seus para sempre foi separada.
Hoje é uma senhora.. mãe de família... Continua com os seus olhos negros à procura da cafeteira de esmalte do café da manhã, cujo aroma lambia toda a cozinha.

Aqueles olhos negros

Ela tinha uns lindos olhos negros e tristes. Absorviam o mundo que a rodeava e não gostava.
Fugia de quem falava muito consigo. Tinha medo.
Em casa, a comida era escassa. De manhã, o cheiro do café - feito numa cafeteira de esmalte - lambia a cozinha pobre. Tomava as sopas de café e... eram uma delícia!
As outras refeições eram parcas. De vez em quando, havia peise. Que bom!
Brincava na rua. Via as outras crianças irem para a escola e desejava ir também.. mas, era pequena. De tempos a tempos apareciam umas freiras para ensinarem canções religiosas. E, lá estava ela, pequenina, sentada no muro, no meio das mais crescidas.
Um dia, sem saber como nem porquê. um senhor veio buscá-la.
Deixou o bairro pobre, a casinha, as sopas de café, a rua para brincar, as freiras para cantar...
O seu mundo rodou vários graus. Tinha, agora, um quarto só para si, - mas o medo tolhia-a.
Foi ensinada a comer, a falar, a sentar-se à mesa... Vestiram-na com fatos bonitos, com chapéus, com sapatos novos e... mandaram-na para a escola.
Ah! a escola! Aí sim! estava feliz! Tinha mais meninas, brincava, aprendia... e, à tarde, voltava sozinha para casa e sozinha ficava. Valiam-lhe os bonecos e alguns livros de histórias.
Foi crescendo... foi vivendo...
Nunca mais voltou ao bairro pobre. Nunca mais comeu sopas de café pela manhã. E dos seus para sempre foi separada.
Hoje é uma senhora.. mãe de família... Continua com os seus olhos negros à procura da cafeteira de esmalte do café da manhã, cujo aroma lambia toda a cozinha.
 Quem sabe da cafeteira?