segunda-feira, abril 17, 2006

Aquela rapariga vivia mal. Tinha um grave problema de saúde. Era esquisofrénica.
Vivia o seu dia na rua. Saía de casa de manhã e lá ia ela direita aos cafés daqui da área.
Entrava, sentava-se, falava alto, queria saber o preço de tudo mas, não podia comprar nada. Mesmo assim, sentia-se feliz por se sentar na mesa, fora do café, armada em grande dama. Quando alguém passava mirava a pessoa de alto a baixo e os seus olhos muito azuis, quase transparentes, fixavam e penetravam os olhos dos outros. Ao fim de algum tempo lá ia ela para outro café.
Atravessava a estrada sempre na passadeira. Tinha aprendido que se atravessava só ali. E ela assim o fazia. Até ontem. À noite, veio ao café. Fartou-se e foi-se embora. Atravessava a passadeira, sempre a ralhar e a gritar com os carros. Houve um que não a ouviu e arrastou-a à sua frente uns valentes metros. Ouvi o seu grito alucinante.
Não a vi ao pé. Mas os seus olhos azuis devem estar a fixar e a penetrar nos olhos de outrém que por ela esperava no outro lado da vida.
Adeus. Que descanses em paz e que, aí nesse mundo, sejas mais feliz . Toda a gente o merece e tu também.
Bons sonhos

1 Comments:

Blogger Mamaíta said...

Já li por várias vezes e em todas elas tenho um arrepio na espinha...

17:20  

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